Afinal, o Sport vai ou não vai participar da Superliga nacional feminina de vôlei? A indefinição, que começou quando a equipe foi vice da Liga Nacional (competição que classifica duas equipes para a Superliga), já dura, pelo menos, um mês. A participação rubro-negra no campeonato ficou pendente devido ao custo elevado do torneio, que reúne os melhores times do Brasil. Porém, por mais perto que essa definição esteja, a dúvida ainda incomoda, principalmente, a jogadoras e comissão técnica, que tanto se esforçaram, dentro de quadra, para levar o Sport tão longe. E ninguém melhor do que o treinador do time, José Alves, para passar o sentimento do grupo. No comando da equipe desde 1999, Zé nunca duvidou do talento que tem em mãos e só lamenta a falta de apoio para o esporte amador em Pernambuco.
Folha de Pernambuco – Até que ponto te incomoda essa situação de indefinição quanto a participação ou não do Sport na Superliga?
José Alves – Incomoda muito e não só a nós da comissão técnica, mas, principalmente, às jogadoras. Imagina como é difícil: pegar um time formado apenas por profissionais locais e, dentro da estrutura do voleibol de Pernambuco, com poucas equipes de alto nível, fazer com que ele se torne um grupo de nível nacional. A gente trabalhou muito para isso e tudo o que está acontecendo hoje é graças a esse trabalho sério e bem estruturado, que só sofreu por conta da falta investimento.
FP – E as jogadoras. Como elas estão reagindo a essa situação?
JA – Com essa indefinição, o nível de motivação caiu bastante, não há como negar. Se a resposta fosse sim, elas estavam treinando feito umas loucas. Mas temo muito pela negativa, porque elas formam um grupo muito trabalhador e não merecem isso.
FP – Conta um pouco de como foi a conquista da vaga na Superliga. Quando vocês saíram daqui, quase ninguém esperava um desempenho tão bom.
JA – A expectativa, antes de ir para a disputa da Liga Nacional, era ir para brigar por um lugar entre os quatro. Só que, 15 dias antes do início da competição, o trabalho que estávamos fazendo começou a dar resultado e a equipe foi crescendo e melhorando. Quando chegou na véspera do torneio, eu até comentei que nunca tinha visto o time tão bem. Na medida em que os jogos foram acontecendo, vi que a gente havia chegado a um nível tão bom, que poderíamos enfrentar qualquer time que viesse na Liga Nacional. Só fico triste por a gente ter conseguido tudo isso e estar dependendo de dinheiro.
FP – Te entristece um pouco essa descrença de alguns na equipe de vocês?
JA – Nunca deixei que pessoas externas às minhas equipes mexessem com a cabeça das jogadoras e elas assimilaram bem isso, pois transformaram as coisas negativas em positivas. Se alguém fala que nós não podemos chegar entre as melhores da Liga Nacional, então eu vou lá, trabalho com elas e mostro que é possível conseguir através do trabalho. Para quem não estava acompanhando dentro de quadra era meio complicado fazer previsões. Faltando duas semanas para o início da competição, a gente tinha a Juliana Elias e a Amanda Juliana, a Juju, com lesões de tornozelo, que são muito graves em se tratando de voleibol. Elas só voltaram a treinar poucos dias antes do início da Liga.
FP – Caso vocês venham a participar da Superliga, qual a expectativa?
JA – É outra competição, de outro nível, com as melhores equipes do Brasil. Vamos criar uma perspectiva de fazer uma boa participação, pois não adianta o Sport ir só para dizer que foi e ser saco de pancadas. Pretendemos ir para fazer uma participação boa, ganhar jogos e estar brigando, pelo menos, entre os oito primeiros, não entre os últimos.
FP – E do que a equipe vai precisar para a disputa da Superliga, tanto em termos de estrutura quanto de reforços?
JA – Primeiro aumentar a quantidade de treinos. Hoje nós treinamos diariamente, mas somente uma vez por dia. A carga tem que aumentar para dois treinamentos diários, como todas as equipes de alto nível fazem. Nenhum clube que treina menos de oito horas por dia vai chegar ao nível de um Rexona ou de um Finasa Osasco, que são os melhores do Brasil, atualmente. Em segundo lugar, vamos precisar de algumas jogadoras, pois as que temos, em sua maioria, são muito novas e não têm experiência em competições nacionais, apesar de já terem ganho muitos campeonatos estaduais e regionais. Quanto a esses reforços, temos que pensar em jogadoras que possam entrar em quadra e não sentar no banco. Entramos em contato com os técnicos das seleções brasileiras de base e eles nos indicaram alguns nomes. Acho que algumas jogadoras de seleção brasileira juvenil já vão nos ajudar bastante. Queremos um grupo novo, mas que esteja bastante motivado.
FP – No mês passado, a Prefeitura do Recife e o Governo do Estado anunciaram um patrocínio bastante “gordo” para os times de futebol do Náutico e Santa Cruz. Enquanto isso, vocês, por exemplo, agonizam por verbas para participar de uma competição de elite do voleibol brasileiro. Falta um olhar com mais carinho para o esporte amador?
JA – O esporte, além de uma forma de entreterimento e lazer, é uma maneira de levar o nome do Estado para outros locais e por isso os governantes deveriam se voltar um pouco mais para ele. A última equipe pernambucana a participar da Superliga, que na época não era nem chamada assim, foi a AABB, há 14 anos, e eu estava nela como preparador físico. Lembro o quanto Recife aparecia na mídia, então acho que seria um investimento bastante válido.
FP – Para você que sente na pele, o descaso com o esporte amador, em Pernambuco, é mesmo grande assim?
JA – O esporte amador, em Per-nambuco, vive à custa da boa vontade das pessoas. Aqui no Sport, por exemplo, o salário das meninas é uma coisa muito pequena, o que nos ajuda, na verdade, são as bolsas de estudos que a Faculdade Maurício de Nassau dá. Isso possibilita a criação de uma perspectiva, que se depender do vôlei, as jogadoras não têm. Se fôssemos depender de ajuda de Governo do Estado e Prefeitura da Cidade do Recife, o voleibol não ia para lugar algum.
FP – E no caso de empresas particulares. São elas que não sabem explorar o potencial do esporte amador ou os dirigentes e profissionais que não sabem vender o peixe direito?
JA – Acho que tem um pouco dos dois. A nossa estrutura é amadora e elas (empresas) não conseguem perceber o potencial do retorno que um investimento desses traz. O voleibol brasileiro, hoje, é um dos melhores do mundo. O que falta, na realidade, é mostrar o retorno que o investidor vai ter. Fazer projetos bons e levar para empresas grandes. Não adianta levar projetos como esse de Superliga para empresas pequenas, que não vão ter como bancá-lo.
FP – A localização geográfica, afastada do sul, onde ocorrem as principais competições, também dificulta a situação das nossas equipes?
JA – Bastante. A questão da distância geográfica atrapalha na falta de intercâmbio. Uma das maneiras mais eficientes de fazer com que sua equipe cresça é colocando ela para jogar com outras melhores do que ela. Pegamos o nosso exemplo aqui no Sport. Os jogos que fazemos contra a AABB são muitos bons, porque o time deles é excelente. Da mesma maneira com a Faculdade Boa Viagem, que também tem uma boa equipe. Mas só existem dois ou três adversários com um padrão de jogo bom, pois o restante não tem qualidade. Não há como melhorar o trabalho de um grupo quando ele percebe que, ao se esforçar menos, obtém o mesmo resultado do que se o tivesse feito.
FP – O que falta para não só o vôlei, como também o esporte amador pernambucano, crescer e decolar de vez?
JA – Investimento é o primeiro passo, porque potencial tem. Temos exemplos de jogadoras como Jaqueline (Rexona/Ades e seleção brasileira adulta), uma das melhores jogadoras do mundo, Danyelle Lins (Finasa/ Osasco), Vivian (SPORT/Maurício de Nassau e seleção brasileira juvenil e universitária), e tantas outras excelentes jogadoras novas que estão começando a aparecer por aí. Então potencial o voleibol de Pernambuco tem, só é preciso investir e acreditar. Ninguém vai chegar num alto nível com um investimento de R$ 1 mil por mês.
FP – E você acha que o Sport estando na Superliga vai ser um grande passo rumo ao crescimento?
JA – É um passo muito largo para que o voleibol passe a ser olhado com outros olhos. Até porque faz muito tempo que Pernambuco não participa de uma competição deste nível. Além disso, a participação do Sport na Superliga seria muito boa não só para o Estado, como também para o Nordeste. As melhores jogadoras do Brasil iriam vir para cá e isso, para o público, com certeza, seria ótimo, e motivaria bastante os jovens a se interessarem pelo voleibol.
FP -A gente vê hoje um Zé Alves campeão, prestes a comandar uma equipe pernambucana na Superliga de voleibol, elite do esporte no Brasil, depois de 14 anos. Mas como que o esporte entrou na sua vida e aproveita para falar da tua trajetória até a época de Sport?
JA – Eu, na verdade, era peladeiro! O vôlei entrou na minha vida quando, certa vez, fui na AABB pedir umas cinco bolas velhas para treinar uma equipe de escola pública lá de Itapissuma e acabei ficando para assistir ao treinamento deles. Pedi permissão ao professor Ednilton (Vasconcelos, treinador da AABB) e fiquei encantado com o que vi. Pensei comigo mesmo ‘poxa, um dia eu ainda consigo chegar aí’. Tudo o que eu consegui na minha vida foram graças a muita dedicação, pois sempre fui um cara batalhador.
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