Após ser empacotador, Ewerthon vive sonho de jogar ao lado de Thiago Neves, Patric e Adryelson no Sport

Foto: Anderson Stevens/Sport Club do Recife
Na noite do último domingo (24), Sport e Bahia se enfrentaram na Ilha do Retiro. Fazendo valer o mando de campo, o Leão foi superior e venceu pelo placar de 2×0. Os gols foram marcados por Thiago Neves e Maidana. Porém, outro jogador chamou atenção de todo no Recife, e pelo Brasil. A noite tinha tudo para ser do jovem lateral-direito Ewerthon.
Criado no bairro de Jardim São Paulo, na Zona Oeste do Recife, o menino começou sem chuteiras e trabalhando como empacotador de sacolas para pagar a passagem até os treinos na base do Sport. Saindo do banco no segundo tempo contra o time baiano, o prata da casa fez três gols contra o time baiano, mas todos foram anulados por impedimento, de forma correta.
Agora, Ewerthon vive uma reviravolta como destaque da base do Leão, três anos depois de quase desistir da carreira. “Onde eu moro é difícil ter campo de grama, sempre foi de areia, então nunca tinha botado uma chuteira no pé. Quando cheguei e disseram ‘tem que botar chuteira’, eu falei: ‘o que é isso?’ A única coisa que eu conhecia na época era Rainha, um branco que usava até para sair. Passou um mês para me acostumar. Eu ia treinar de chuteira e ia para casa de chuteira, não tirava, que eu não tinha noção de como eram as coisas”, afirmou.
Aceito na escolinha do Sport, o jovem lateral precisava ir sozinho aos treinos na Ilha do Retiro durante a semana, porque mãe e irmão trabalhavam para garantir o sustento de casa. “Minha família não era muito boa financeiramente. Eu trabalhava no mercadinho embalando compras, só que como era novo, não podia assinar nada. Me davam R$ 20 nos dois dias e mais as gorjetas. Me davam moeda, aí eu tinha que ir juntando para poder pagar a passagem nos dias da semana para treinar”, disse.
Há três anos, Ewerthon quase desistiu da carreira por conta de uma lesão no púbis. E foi ali que dona Leni, mãe do garoto, foi previdência na hora da motivação. “Ele ficou andando com duas muletas e quase não conseguia movimentar. Alguns médicos disseram que seria o fim da carreira dele e eu disse que não, disse: ‘enxugue esse choro’. Estava acontecendo o Pernambucano, e ele não iria jogar porque tinha se lesionado, eu perguntei: ‘você acredita que vai fazer parte desse grupo?’ Ele disse: ‘não acredito, porque minhas forças acabaram e minha esperança também’. Eu disse: ‘sua mãe é uma guerreira e você também. Você não vai desistir”, garantiu.
Após pouco mais de um mês, de volta às categorias de base do rubro-negro, ele disputou o Brasileiro Sub-20 e virou destaque em 2019 como lateral artilheiro, com 10 gols na temporada. Em 2020, conquistou uma vaga no profissional e tem ganhado cada vez mais espaço, agora com o técnico Jair Ventura.
“Quando chegou a notícia do profissional foi um sonho que passou dois dias para cair na caixola. Quando eu estava na concentração, falei: ‘poxa, olha onde eu estou. Esses caras, Thiago Neves, Patric, Adryelson, que eu sempre vi jogando, estou treinando com esses caras’. Sonhar a pessoa sonha muito, só que quando as coisas começam a acontecer, a pessoa fica meio assustada”, finalizou.