Campeão de fato e de direito

Dezenove minutos do segundo tempo, escanteio para o Sport. Betão cobra, a bola atravessa toda a área adversária e encontra o zagueiro Marco Antônio, que acerta uma cabeçada fulminante e indefensável para o goleiro Sérgio Neri. Este gol, um dos mais importantes da história do clube, foi o único da partida decisiva contra o Guarani que deu o título de campeão brasileiro de 1987 ao Sport. Neste confronto, realizado apenas no dia 7 de fevereiro de 1988, devido à divergências fora de campo, o time de Robertinho, Ribamar e cia. pôde enfim presentear a torcida rubro-negra com o tão sonhado e inédito campeonato nacional.


Por pouco, o Sport não fica sem uma das suas peças fundamentais para a final. “Era para eu ficar fora do jogo. Dois minutos para acabar o coletivo apronto senti uma contusão de estresse no ligamento do joelho direito e o médico Romualdo Veras me vetou. Aí Rogério, Betão, Robertinho e Zico se reuniram e pediram para eu jogar. Até falaram em tom de brincadeira: poxa Ribamar, corremos o campeonato inteiro para você, um jogo só é tranqüilidade”, conta Ribamar, que atualmente tem uma escolinha de futebol em Curitiba.


E o Sport precisava realmente do time completo para enfrentar o Guarani. “Eles tinham no time jogadores de Seleção Brasileira. Individualmente, eram melhores. Por isso, tínhamos que nos superar”, diz Homero Lacerda,  presidente do Sport em 1987. Então, a tática para frear o Guarani era atacar desde o início. “O Sport tinha trocado Leão por Jair Picerni, que não tinham a mesma filosofia. Eu e Betão, que éramos os líderes do grupo, conversamos com o restante do pessoal para marcarmos pressão desde o início. Começamos a mil para surpreendê-los, como era estratégia de Leão”, relembra Robertinho, que hoje trabalha como técnico.


Os lances mais perigosos do Sport surgiram através das jogadas ensaiadas de escanteio. “Era uma jogada ensaiada por Leão. Eu batia de três dedos com força para Robertinho, no primeiro pau, desviar e a bola sobrar para Nando, no meio, ou para Marco Antônio, no segundo pau. Ribamar e Zico ficavam no rebote”, conta Betão, dono de uma escolinha franquia do São Paulo na capital paulista. “Sabíamos que ia dar certo. Então sempre repetíamos a jogada”, lembra Robertinho.


Por duas vezes, quase saí o gol do Sport numa jogada ensaiada desta. “Eu cabeceei uma, mas o goleiro pegou. No intervalo, Carbone (técnico do Guarani) falou: Marco pára de ir à área”, recorda Marco Antônio, que desacatou o pedido do antigo treinador. “No escanteio, Ricardo Rocha gritou com os companheiros dizendo que ia me marcar. Entrei na corrida e peguei a bola de encontro. Foi muito forte. Fui coroado com aquele gol que busquei o campeonato inteiro e só saiu naquela final. Ontem mesmo estava vendo este gol no vídeo”, conta.


Em nenhum momento o Guarani colocou o título do Sport em risco. “Parecia que estávamos jogando contra o Íbis. Ninguém deixava eles jogarem”, diz Homero. “Nunca mais o Sport vai montar um grupo tão bom quanto aquele. Foi um time perfeito para o momento e o clube ideal. E a torcida acompanhava esta harmonia”, define Robertinho.


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