A mudança de endereço do futebol profissional leonino não representa o fim de um pesado fardo nas costas da instituição Sport Club do Recife, que responde por um débito previdenciário e trabalhista de cerca de R$ 6 milhões, segundo Harlan Gadelha, quase todo oriundo do departamento de futebol. O passivo seguirá sufocando a agremiação, que movimenta outros dez esportes, tidos como amadores, e que sempre tiveram que abrir mão de suas receitas em detrimento do futebol. “O dinheiro do Sport sempre teve como destino final o futebol”, disse Harlan, coordenador da minuta de criação da Sport S.A.
Débitos, por sinal, não farão parte, pelo menos inicialmente, do vocabulário da Sport S.A, que nascerá com suas contas ‘zeradas’. Assim, os idealizadores do clube-empresa pretendem contar com os investimentos públicos, conforme garante a Lei Pelé, para instituições regulares diante da Previdência Social e da Justiça do Trabalho. A saída pode não ser tão fundamental. “Isso porque, com a criação da loteria federal Time Mania, os clubes que aderirem estarão aptos para investimentos, pois renegociarão suas dívidas”, disse o ministro dos esportes, Agnelo Queiroz.
Com a criação da Sport S.A uma coisa é certa: o passivo trabalhista e previdenciário do Sport Club do Recife, oriundo do futebol profissional, não crescerá. A partir de agora o clube-empresa responderá pela modalidade. Mas os 99 anos de histórias e dívidas ficarão na mão dos esportes ‘amadores’, que juntarão às suas receitas, a arrecadação com os sócios, que continuarão sob responsabilidade da instituição. “Não queremos dar calote em ninguém. O Sport seguirá honrando seus compromissos”, garantiu Harlan Gadelha. “Se o futebol for bem, aumenta o número de sócios. Estaremos ajudando direta e indiretamente”, completou.
A grande dúvida deixada pela minuta de criação da Sport S.A está no destino dos lucros obtidos pela intituição, com o clube-empresa. Contrariando o que muitos ‘especialistas’ estão falando, os idealizadores do pré-projeto garantem que o Sport Club do Recife, detentor de 51% das ações ordinárias e, provavelmente, das preferenciais, não será obrigado a reinvestir seus lucros na companhia. Assim, a instituição poderá investir nas divisões de base, nos esportes amadores, na infra-estrutura do estádio, em um centro de treinamento (objetivo da nova diretoria) e no pagamento das dívidas, de acordo com o que determinar a direção do clube. “O destino destes recursos estará nas mãos do Conselho Deliberativo do clube. A S.A não tem nada com isso”, comentou o advogado Antônio Mário Pinto.
Outra pergunta frequente é sobre um possível insucesso da empresa. Se os diretores ‘profissionais’, que trabalharão em tempo integral nos negócios da companhia, não conseguirem sucesso no futebol, deixando a Sport S.A no vermelho, com dívidas astronômicas, o torcedor rubro-negro não precisa se sentir no fundo do poço. Basta a S.A decretar falência para que o comando do futebol profissional volte ao Sport Club do Recife, sem ônus à instituição. Os grandes prejudicados pelo ‘quebra’ na Ilha seriam os investidores. A minuta não deixa claro quem deve responder e quais as possíveis punições em caso de insucesso dos negócios leoninos. “Este não é um modelo definitivo. Caso aconteça uma infelicidade, a empresa é fechada, mas o futebol continua, sem seqüelas”, disse o advogado Fernando Cavalcanti.
Para autenticar o trabalho dos diretores, o Conselho Administrativo da empresa decidirá sobre a instalação de um Conselho Fiscal, com a função de “verificar os atos dos administradores e o cumprimento dos deveres legais da empresa” (artigo 22 da minuta). “Tudo estará sob fiscalização. Só assim os negócios prosperam”, disse Antônio Mário.
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