Por Severino Luiz de Araújo*
Não cabe apontar culpados pela dramática situação em que vive o Sport Club do Recife. Para quê? Se não resolveria seus problemas administrativos e financeiros, e somente aumentaria a tristeza que, há alguns anos, machuca a alma rubro-negra? Se houve erros, é justo que também se ressaltem os acertos e as páginas de glórias escritas por dedicadas e bravas gerações de campeões. O bom senso recomenda que é hora de se dar um basta às intermináveis intrigas que, muitas vezes, propositadamente ou não, atingem a honra das pessoas de bem que, ao longo dos últimos trinta anos, tiveram a responsabilidade de dirigir o nosso Clube.
A história ensina que o Sport sempre saiu engrandecido de momentos até mais difíceis que o de hoje. Foi assim em 1973/74, uma fase de reorganização e reequilíbrio financeiro, em 1975/76, depois de doze anos sem ganhar um campeonato, em 1979/80, na retomada de vitórias após a refiliação do Clube à FPF, em 1987, na conquista do título nacional e, também, no início dos anos noventa, na queda para a Segunda Divisão e imediato retorno à Série A – um período em que o Sport conquistou sete títulos estaduais, dois títulos regionais e o vice-campeonato da Copa dos Campeões.
Este ano, milhões de pernambucanos e brasileiros, que torcem pelo Sport, têm sido submetidos a prolongadas angústias e enormes sofrimentos, que somente serão amenizados com vitórias. A situação pode e vai melhorar, mas será preciso muita paciência e colaboração da torcida, do Conselho Deliberativo e das grandes lideranças do Clube. O presidente Severino Otávio necessita de apoio e compreensão dos rubro-negros, de gestos e atitudes positivas. Sem isso, o Sport estará correndo o risco de continuar amargando fracassos.
Lembremo-nos, em favor do presidente, que os clubes são as maiores vítimas das leis que regem a economia do futebol e que a Era dos Mecenas já passou. A modernidade, ou seja, a desastrosa Lei Pelé, extinguiu o direito ao passe dos jogadores e, com isso, transferiu incalculáveis somas de dinheiro e poder para as mãos de sanguessugas e aproveitadores do futebol. Em face disso, agora, as receitas financeiras provêm exclusivamente da publicidade, da televisão e da contribuição social, que dependem cada vez mais do desempenho do time de futebol: se vai bem, tudo é maravilhoso, se vai mal, o inferno se instala e começam as acusações e os impropérios. O Sport não foge dessa realidade, com o agravante de não ter mais a fartura de recursos de um passado não muito distante.
Numa comunidade da abrangência e complexidade do Sport, há de se reconhecer como normalíssima a existência de grupos divergentes. Por isso, soaria uma tolice falar-se em união. Porém, sem pieguices ou romantismos, a consciência rubro-negra faz um chamamento às grandes lideranças para que não faltem em tão grave momento da história do Clube.
Quem, em 1955, nas ruas do Recife, participou das comemorações do cinqüentenário do Sport – uma festa de beleza e cores que orgulhou todos os rubro-negros e Pernambuco inteiro – não suportaria a decepção de ver o Sport relegado a posição ainda mais dolorosa que a de hoje. Na adversidade, e até mesmo sem contar com todo o apoio esperado, o Sport reagirá à altura de sua força, grandeza e tradições, e o seu centenário será um marco de glórias somente reservado aos grandes campeões.
A hora da virada está por vir. E virá.
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