Um rubro-negro exemplar. É assim que se pode definir Raimundo Carrero. Nascido em 20 de dezembro de 1947, em Salgueiro, sertão pernambucano, veio para o Recife adolescente. Escritor, jornalista e árduo torcedor leonino, ele disse que escreve com a mesma valentia que torce pelo Leão da Ilha. “Eu não sou nada, só sou Sport”, declarou ao falar sobre as pessoas que tem mais de um time. “Fora o Rubro-negro e a Seleção brasileira, não penso em ninguém, não há nem como pensar”, completou.
Dono de uma excelente memória, Carrero lembra de detalhes da história do Clube da Ilha. Numa conversa descontraída, na livraria Nobel, localizada em Boa Viagem, Raimundo Carrero expôs a opinião dele sobre diversos assuntos, como a atual situação do Sport, além de ter contado momentos engraçados ocorridos devido ao amor pelo Leão da Praça da Bandeira. Um exemplo disso foi quando após um gol de Ribamar, em 1988, entrou dentro de campo e comeu um pedaço do gramado.
Apesar de acreditar que o Sport vai fazer uma boa campanha na Série B, ele comentou que esse ano está sendo um dos mais dramáticos. Relembrou também a época na qual era repórter e os jogadores não tinham nem meião para treinar.
Quanto aos próximos projetos, Raimundo Carrero vai participar da Festa Internacional Literária em Parati, que acontece de 7 a 11 de julho e reúne grandes nomes como Adriana Falcão, Lygia Fagundes Telles e Dráuzio Varella. São mais de 2 mil pessoas presentes no concorridíssimo evento. Segundo Carrero, “parece jogo do Sport”.
Para saber mais sobre esse rubro-negro, que não descarta a possibilidade de um dia escrever sobre futebol, é só conferir a entrevista e descobrir por que não ha separação entre o Raimundo Carrero escritor e torcedor leonino.
Numa entrevista concedida pelo senhor, disse que pensou em escrever “Somos Pedras que se Consomem” por conta da preocupação com a violência no Brasil… O que o senhor acha sobre a violência nos estádios de futebol? O que deveria ser feito para se evitar esse tipo de situação?
Isso é preocupante, porque se trata apenas uma resposta à violência cultural. Como o país está vivendo um período de enorme desatenção com os problemas sociais, que surge em vários níveis. A violência nos estádios não é algo isolado. As pessoas que antigamente iam para lá queriam ver jogo. Eu não vou! Infelizmente não tenho condição. Primeiro, porque não tenho tempo. Segundo porque a violência me preocupa. Mas, quando eu digo “não vou”, é em tese, pois tenho ido com meu filho mais novo. Tem que se analisar essa barbárie como um processo sócio-cultural. É minimizar demais o problema dizer que a culpa é da torcida organizada. Antes de se tomar medidas policiais e judiciais, é preciso ver o que se faz pela educação no Brasil. O brasileiro hoje é totalmente negligenciado.
Em que momento, o futebol e a literatura se unem? Ele já lhe influenciou, como escritor?
Eu tenho uma vontade imensa de escrever sobre futebol. Só que ele é uma coisa esquisita. É um mundo muito particular. Nesse mundo, a pessoa começa a viver aos 20 anos e termina aos 30. É uma arte de meninos, muito isolada. Ninguém sabe o que o jogador de futebol pensa. Por que isso? Eles não sabem falar então, quando eles se expressam, é tudo no mesmo código. Parece que são robotizados, todos falam a mesma coisa. Ou de um lado eles são proibidos de falar – não no sentido de código, mas no de terem saído da linha – ou então mentem, para construir um mundo à parte. Esse fenômeno me impressiona bastante. Eu gostaria de parar uma hora para refletir sobre isso. Mas eu teria que interromper todos os meus projetos intelectuais para entender os jogadores de futebol.
O senhor já pensou em escrever um romance ou uma peça cujo tema fosse a paixão pelo Sport ou que a situação em que as personagens girassem em torno do time?
Acredito que há grandeza para isso. Pode ser que eu me vire para a área esportiva e coloque o Sport num romance meu. Seria uma grande alegria para mim.
Os seus leitores sabem que o senhor é rubro-negro? Qual a reação deles ao saber?
Imagino que saibam. Não posso fazer nada. Pelo Sport, tudo, sempre! Não há nenhuma reação tão forte. Normalmente, quando vou dar palestras, perguntam: “Qual o seu clube?” aí eu levo muito aplauso e muita vaia. Nunca ninguém me procurou para dizer: “Eu não vou ler teu livro porque você não é alvirrubro ou tricolor”. Não tenho nada contra os torcedores dos outros times. Acho que eles têm que ter o mesmo amor que eu tenho pelo meu.
O senhor é amigo de Ariano Suassuna, outro torcedor leonino. Em algum momento, durante a conversa de vocês, falam sobre o Sport?
Quase sempre. Conversamos não só sobre literatura, mas sobre a vida também. Em certos momentos, comentamos sobre futebol, então eu conto minhas idas ao estádio, ele conta as dele. É uma pena que não podemos mais falar sobre jogadores. Não existem mais atletas de clubes, não se tem mais identidade.
Lembra de alguns jogadores que tinham esse amor pela camisa?
Quando eu cheguei em Recife, na década de 60, época do bicampeonato, o Sport tinha jogadores fantásticos, como Bittencourt, Alemão, Tomires… Era um time bárbaro! Tem Dario, que estava numa fase na qual o futebol estava crescendo no sentido da profissionalização, mas tinha um grande amor pelo Sport. Foi um atleta que marcou muito. Depois que profissionalizou demais, ficou essa bagunça.
E nos últimos anos, consegue identificar algum jogador com essas características?
Tivemos o próprio caso de Leonardo, que esteve há pouco tempo no elenco leonino, mas não honrou o Sport. Já durante a década de 90, foi um jogador de qualidade. Nildo, sempre foi rubro-negro. Depois da lei Pelé, houve um grande número de atletas que não tiveram, e acredito que nem vão ter, paixão pelo Sport.
Quando começou a paixão pelo Sport? Já passou por alguma situação engraçada, que envolvesse o Sport?
Acho que desde que nasci. Adotei o Sport logo de cara. No dia 12 de março de 1960 eu fui ver o Leão jogar pela primeira vez, num jogo contra o Náutico, cujo placar foi 2×1 para o Rubro-negro. Quando eu estava nos Estaods Unidos, ligava direto para saber como o Sport estava.
Tem algum recado para os torcedores leoninos?
Peço à torcida que não comece a ficar contra o treinador. O Sport está em situação favorável. Se alguém tropeçar, o Sport passa. Não é hora de tumultuar, e sim de torcer.
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