Revelado no Sport, Manga relembra carreira como goleiro e afirma: “Eu me acostumei com a dor”

Manga foi revelado pelo Sport
Manga foi revelado pelo Sport

Manga se chama Haílton Corrêa de Arruda. Pernambucano, foi revelado pelo Sport, mas ganhou notoriedade como dono da meta do Botafogo no período mais vitorioso do clube, os anos 1960. Começava com ele a formação que, no ataque, tinha Garrincha, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Embora a Copa de 1966, com a seleção brasileira, tenha sido uma frustração, a carreira por clubes foi muito vitoriosa.

Ele virou ídolo no Nacional, do Uruguai, com hegemonia local, conquistas da Libertadores e do Mundial. Numa fase ainda mais experiente, foi pilar do bicampeonato brasileiro do Internacional, em 1975 e 1976. Depois de passar por Operário-MS, Coritiba e Grêmio, terminou a carreira no Barcelona de Guayaquil (EQU).

“Caiu de ser o Manga . Foi uma surpresa. Estava no Uruguai quando vi a notícia. Esperamos que continue assim, ainda mais com vida. Qualquer dia é dia para festa. Me vacinaram de novo na semana passada, pela quarta vez. Graças a Deus estou bem”, Manga, sobre o Dia do Goleiro, comemorado no Brasil desde 1976.

Quando se depara com uma câmera, Manga faz um movimento automático: mãos espalmadas para o alto. Ao longo dos anos, desenvolveu o hábito de exibir quase que espontaneamente as marcas da carreira. Manga foi referência em um período rústico para a função de goleiro. Era inimigo da luva.

“A luva era de couro. O sapateiro que fazia. Eu não tinha confiança. Era muito grande. Entrava com a luva e deixava ela ao lado da trave. Jogava sem”, disse ele, explicando o ritual pré-jogo:

“Eu cuspia assim, colocava areia (esfrega as mãos) e ia para o campo”.

Além de jogar sem proteção, não esperava a recuperação completa das lesões para voltar a jogar. Nos tempos de Botafogo, o médico Lídio Toledo, que por décadas também foi da seleção brasileira, tentava manter o paciente sossegado, mas não conseguia.

“O dedo ficava muito gordo. O doutor metia a agulha e tirava o sangue. E daí, enrolava com algodão e esparadrapo. Eu entrava no campo e seguia. Foi assim em todos os lugares”, conta Manga.

“Depois que terminava os 90 minutos, o médico colocava uma tala de gesso por uma semana. Então, dependia se viria uma partida difícil. Com jogo difícil, eu tirava no sábado, treinava. Ainda ficava meio inflamado. Aí colocava o algodão com a gaze. Assim foi minha vida”.

“Eu me acostumei com a dor”

O lendário goleiro que jogava sem luvas brilhou desde as categorias de base do Sport: foi campeão pernambucano juvenil de 1954 sem sequer tomar gols. Esta façanha chamou a atenção do técnico Gentil Cardoso, que logo cuidou de promover o jovem e talentoso arqueiro para o profissional do Sport. Em 1955, aos 18 anos, estreou na equipe principal do Leão, em um amistoso contra o Náutico, na Ilha do Retiro, substituindo o goleiro Carijó durante a partida. Foi pé-quente: o clássico terminou em vitória do Sport por 5×2.

Somente em 1956, defenderia a trave rubro-negra pela segunda vez, novamente substituindo o goleiro Carijó, em uma partida amistosa contra o Fluminense de Feira na Ilha. Já em 1959, Manga se despediria da Ilha do Retiro. Em sua última partida pelo Sport, contra o Ferroviário pelo Pernambucano, até gol marcou. Depois, partiu para o Sudeste. Sequer deu tempo de defender as cores rubro-negras na Taça Brasil daquele ano.

Coletiva do técnico Gilmar Dal Pozzo (Novorizontino x Sport)

YouTube video